Uma aula diferente, com uma conversa aberta sobre temas sensíveis, envolvendo diversidade e cidadania. É o que o professor de matemática Érick Roberto Freire de Araújo Silva proporcionou aos adolescentes de quatro turmas do ensino fundamental (duas de 6º ano e duas de 7º ano) da EMEIF “Prefeita Maria Neli Mussa Tonielo”, com o projeto “Roda de Conversa: refletindo sobre a vida”. Foram 20 edições, abordando temas diferentes, como automutilação, bullying homofóbico, depressão infantil, combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes, representatividade da população negra, intolerância religiosa e cultura de paz.
Érick explica que os professores são estimulados, em qualquer disciplina, a trabalharem competências socioemocionais com os alunos. Então, foi aí que surgiu a “Roda de Conversa”. “O projeto aconteceu no segundo semestre de 2017 e durante o ano de 2018. Além de proporcionar uma vivência enriquecedora para todos os envolvidos, possibilitou uma mudança de paradigma quanto à função social da escola. Foi uma atividade de reflexão sobre o cotidiano, buscando uma maior interação dos conteúdos curriculares com a realidade de cada um”, declara Érick, que hoje é diretor da EMEF “Profª Marilena Arantes Meneghini”.
No ano passado, o professor se viu diante da oportunidade de compartilhar essa experiência de sucesso com profissionais da educação de todo o Brasil, através da iniciativa “Conectando Boas Práticas”. Promovida pela Rede Conectando Saberes e pela Fundação Lemann, a ação recebeu inscrições de mais de 6 mil projetos de professores, coordenadores pedagógicos e diretores escolares de todos os estados do Brasil. O objetivo era reconhecer os projetos de cada educador e educadora que aplica uma boa prática em sua escola.
O trabalho do professor sertanezino foi um dos dez selecionados da nossa região, e Érick participou, em novembro do ano passado, de uma cerimônia na qual ele pôde palestrar sobre o projeto e recebeu uma placa, como forma de reconhecimento. E, para finalizar em grande estilo, em novembro de 2020, o projeto “Roda de Conversa: refletindo sobre a vida” foi publicado em um livro eletrônico, junto a todas as Boas Práticas selecionadas no estado de São Paulo.
“Estou muito satisfeito por conseguir divulgar esse trabalho para mais pessoas, na expectativa de poder incentivar outros profissionais da educação com essa experiência, que foi exitosa na minha realidade”, declara o professor. E completa, esperançoso: “senti que atingi positivamente pessoas ao meu redor no que diz respeito a esse projeto e espero que consiga incentivar cada vez mais profissionais a trabalharem de forma mais humana dentro da sala de aula”.
A secretária municipal de Educação, Gisele Maria Miranda, teceu elogios ao professor e a toda a equipe da escola. “Esta é mais uma vez em que o excelente trabalho realizado pela Educação Sertanezina recebe o devido reconhecimento, e em nível nacional! Meus parabéns ao professor Érick pelo empenho, e a toda a equipe da EMEIF ‘Prefeita Maria Neli Mussa Tonielo’, que se envolveu direta e indiretamente no projeto!”, orgulha-se Gisele.
Sobre a Roda de Conversa
“Foi um trabalho que acabou envolvendo toda a escola”, explica Érick Araújo, que além de professor de matemática, é também professor de ciências, mestre em educação sexual e doutorando em educação escolar. “Na primeira etapa, o planejamento, eu fazia o levantamento dos temas que os alunos gostariam de conversar ou pesquisava sobre algum episódio concreto que aconteceu na escola ou na cidade. Quando falei sobre automutilação, por exemplo, preparei material com psicólogos, convidei outros professores para participar e os preparava durante o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). Então envolveu muita gente”, ele conta.
A sensibilização dos alunos acontecia durante a exposição do tema pesquisado pelo professor, que, em seguida, estimulava uma discussão com os estudantes dispostos em círculo. “As opiniões divergentes eram respeitadas, pois a atividade só faz sentido se o espaço for seguro e acolhedor para todos”, destaca o professor.
Na fase final, os alunos apresentavam uma proposta de intervenção capaz de comunicar e compartilhar para todos na escola os conceitos discutidos, como murais, cartazes de campanha, e até vídeos. “No tema ‘cultura de paz’, os alunos fizeram uma simulação teatral de um conflito no recreio, que foi resolvido pacificamente, como forma de mostrar que há maneiras assertivas de se resolver divergências”, conta o professor. Ele diz também que, nos temas tristeza e automutilação, foi criada uma rede de apoio através de cartas anônimas, uma intervenção que durou muito tempo.
O projeto começou com duas aulas por bimestre e, por interesse dos alunos, passaram a ser duas aulas mensais. Segundo o professor, as atividades eram opcionais, mas todos sempre participaram, exceto da intervenção, que era um trabalho realizado fora do horário escolar.
“A minha intenção é que outras pessoas vejam que esse projeto é importante e que realmente auxilia os estudantes a desenvolverem suas competências socioemocionais. Quero estimular que isso aconteça em outras escolas. Não estou mais na sala de aula, mas espero abrir espaço para que outros professores façam isso e nas condições que eles precisam, pois esse projeto pode ser desenvolvido em qualquer local e com o uso mínimo de recursos”, declara o professor, com satisfação.
Conectando Saberes
A Conectando Saberes é uma rede nacional de professor para professor, apoiada pela Fundação Lemann. O grupo já conta com mais de 600 educadores espalhados pelo Brasil, comprometidos com uma educação pública de qualidade. Juntos, esses educadores buscam fortalecer a profissão docente, compartilhando aprendizados, angústias, desafios e vitórias da construção de uma educação pública de qualidade. A rede conecta professores e gestores públicos, tornando possíveis transformações pensadas e estruturadas por ambas as partes. Ela também incentiva o reconhecimento de quem está fazendo diferença em sala de aula, inspirando professores para além da rede.