Dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida por marcar a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão. O intuito é celebrar a memória, a cultura e a ancestralidade dos negros no Brasil. E, num ano em que houve uma forte movimentação da municipalidade em favor do empoderamento feminino, o Departamento de Comunicação da Prefeitura de Sertãozinho escolheu, para homenagear a cultura negra, uma sertanezina de coração: Benedita Amparo.
Uma mulher que curava
Toda mulher amorosa é, de algum modo, uma curandeira. Uma mulher cheia de força, que alimenta de bondade todos aqueles que a rodeiam, que olha com os olhos serenos da vida, que é sincera com sua identidade, que cura com um beijo.
Ser curandeira é infundir e transmitir carinho, abraçar o amor com mais amor, levar seus segredos, conhecer o perdão, viver em graça, ensinar a saber.
Benedita Amparo foi uma curandeira. Humana, compreensiva, conhecedora do seu poder, da sua inspiração, da sua permanência, do seu caos e sua ordem. Defensora das necessidades, dos seus sonhos e dos sonhos das outras pessoas.
Benedita Amparo acolhia sempre com o coração e era consciente do que ocorria ao seu redor. Não conhecia a perfeição e nem a imperfeição, tinha a luta sempre como sua vocação. Porque ser uma mulher curandeira nem sempre era fácil, mesmo que exercitasse a cura por meio da caridade e do amor ao próximo, sem relações religiosas.
Apesar do significado original da palavra não ter relação direta com a caridade, Benedita Amparo ficou conhecida na cidade como curandeira, por amar o próximo sem medida e acima de qualquer coisa. A partir da sua história e da pesquisa realizada pelo Departamento de Comunicação, foi possível encontrar a balança que mostra e hipnotiza o equilíbrio da mulher que vamos conhecer agora.
Amparo aos necessitados
Benedita de Jesus Amparo nasceu na cidade Ilha Bela/SP, em 1863. Chegou a Sertãozinho em 1888, quando ainda tinha 15 anos, com sua família, trazida pelo seu pai Francisco dos Anjos Gaia, o qual se transformaria depois, no primeiro professor de Sertãozinho.
Ninguém poderia imaginar que aquela humilde mocinha abrigaria uma alma forte de mulher. Parecia que viria para cumprir uma grande missão. Benedita era repleta de bondade e extrema dedicação aos seus semelhantes.
Benedita foi catequista, fundou a Associação do Rosário e do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus, fundou o Asilo e o Orfanato São José, onde, por vários anos, abrigou, amparou, alimentou, vestiu, medicou e até ensinou as primeiras letras e a importância da fé a centenas de crianças que foram abandonadas pela família ou se tornaram órfãs.
Depois de longos anos sempre ajudando as pessoas, já idosa, ela passou a ser a mais ilustre moradora do Asilo São Vicente de Paulo, onde, apesar da sua enfermidade, continuava a ajudar e cuidar dos demais internos.
Aos 94 anos, Benedita veio a falecer, no dia 11 de outubro de 1.957, na Santa Casa de Sertãozinho. Por ter sido uma mulher humilde, de coração generoso, e ter espalhado muitos benefícios a quem precisava, sua morte repercutiu dolorosamente. Tanto que, até nos dias de hoje, 62 anos depois, o jazigo de Nº 1.360, da quadra C, lote 29, do Cemitério Municipal Papa Paulo VI, é o mais visitado pela população, inclusive por pessoas que dizem terem sido agraciadas com milagres atribuídos a ela.
Além disso, seu nome está perpetuado para sempre no município, desde 1.959, através da Lei de nº 155, aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo então prefeito, Antônio Paschoal, que denominou “Benedita Amparo” uma das ruas do Jardim Shangri-lá.
O coração de uma curandeira é algo que conecta a profundidade de mil mistérios. A curandeira é aquela que está vestida de força e dignidade. O melhor remédio para alma é a doçura do outro ser humano, a amabilidade e a sensibilidade de quem escuta, de quem trata a si mesmo com respeito e valoriza os outros como um tesouro. Isso é o que define Benedita Amparo, a mulher amorosa, a curandeira.
Coincidência ou não, seu nome tem muito a ver com suas realizações em vida: Benedita (bendita, benta, abençoada) de Jesus (vivenciou na prática os ensinamentos do cristianismo) Amparo (aquela que ampara, ajuda ou socorre).