Muito além de suprir as necessidades momentâneas de quem necessita, o Centro POP visa reestruturar a vida de pessoas que, muitas vezes, perderam totalmente seus vínculos familiares e precisam de um apoio para recomeçarem a tecer suas identidades sociais.
Um dos trabalhos mais importantes feitos pelo Centro, como explica o pedagogo Francisco Alves Magalhães, que coordena o setor, é o de Fortalecimento de Vínculos, realizado por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, que visa trabalhar na reinserção do cidadão, que está em condições de rua, à sua família.
“É um trabalho de formiguinha, bem minucioso, que demanda tempo e muita conversa. Primeiro, a gente analisa caso a caso, escuta a pessoa tentando entender os motivos que a levaram a estar naquela situação. Após isso, tentamos o contato com seus familiares, que também são ouvidos para saber a disponibilidade de receber novamente o ente em casa”, informou Magalhães.
Ainda segundo ele, após esses processos, começa a aproximação das partes e a escuta em conjunto, para saber qual a real chance dessa reaproximação dar certo.
“São raros os casos que conseguimos fazer com sucesso essa reaproximação. É uma situação delicada, que requer tempo e muita paciência com ambas as partes, para efetividade da ação”, afirmou.
Na última semana, a equipe foi até Ribeirão Preto para fazer o acompanhamento do senhor Aparecido Donizeti de Jesus Pereira, que está na fase final do Programa de Fortalecimento de Vínculos, e já está morando há três meses com sua irmã, após mais de quatro anos vivendo pelas ruas de Sertãozinho.
Entenda o caso
Em janeiro de 2016, o senhor Dino, como gosta de ser chamado, foi encontrado pela primeira vez em uma praça da cidade, totalmente tomado pelo alcoolismo e com depressão profunda, após romper os laços com a família e passar vários anos pelas ruas.
Magalhães explicou que, ele foi muito relutante em receber o atendimento da equipe de abordagem social. “Ele foi muito resistente em todas as nossas tratativas iniciais em tentar retirá-lo do local onde vivia, que era uma situação degradante, sem a mínima condição de higiene. Porém, depois de muita insistência e três meses de abordagens rotineiras, ele permitiu serem feitos os primeiros contatos com a sua família, os quais também foram difíceis, pois alguns parentes relutaram em aceitá-lo, até que a sua irmã, Marta, aceitou recebê-lo de volta”, contou Francisco.
Assim que chegou à casa de Marta, a equipe do Centro POP foi recebida com um sorriso pela família: “eu agradeço o trabalho deles todos os dias, quando olho meu irmão em casa, limpo e bem cuidado. Ele chegou aqui em uma situação tão complicada; o Francisco fez um trabalho de amigo para nossa família e continua ajudando em tudo que ele pode”, disse ela.
Durante a visita, Marta continuou relembrando todo o processo de reaproximação: “ele chegou aqui todo sujo e maltrapilho, e sem contar o emocional, que estava bem abalado. Não tinha vontade de fazer nada, mas no final das contas, ele só precisava de muito carinho e amor de família, pois agora ele ajuda a gente aqui em casa no que ele pode”, explica a irmã de Dino.
Dino relembra os tempos difíceis pelas ruas da cidade, e afirma nunca mais querer passar por essa situação novamente. “A única coisa que sinto saudade dessa época são das pessoas de bom coração que conheci, mas um dia eu quero voltar para visitá-los”, afirma ele, antes de ser interrompido pela irmã com um sorriso no rosto, reafirmando que é “somente para visitá-los”.
“Eu nunca mais quero vê-lo naquela situação novamente”, finalizou Marta.
Este final feliz ilustra a importância social do Centro POP e demonstra o motivo pelo qual, ao invés de dar esmolas, a população deve orientar o morador de rua a buscar atendimento especializado no Centro POP, que fica à rua Paulo Meloni, 720, no Jardim Alvorada. O telefone para mais informações é: 3945-8453.