Por *Débora Carolina Silva Ribeiro
“Eu havia saído da escola; mudei de caminho. Não devia ter feito isso. O homem mau veio; senti medo, mas foi culpa minha!”
“Hoje, eu contei para a mamãe que o vovô tem brincadeiras estranhas, mas a mamãe ficou muito brava; me bateu na boca pra eu não falar mais essas coisas. Apanhei, mas foi culpa minha”.
Parece uma realidade distante, mas os crimes de violência sexual e exploração sexual contra crianças e adolescentes são parte do cotidiano de muitos brasileiros.
Não existe posição social; a violência acontece em todas as classes sociais. Em algumas, a violência é menos exposta, velada ou até mesmo banalizada, considerada como uma brincadeira. Assim, diariamente, vamos construindo uma infância permeada de segredos, medos e descobertas precoces, que atormentam os pensamentos das crianças e adolescentes vítimas desta dor.
Para não nos esquecermos desta dor, o dia 18 de maio foi instituído como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Nesta data, relembramos a morte de Araceli, cruelmente violentada e morta aos oito anos de idade, quando voltava da escola. Ela nunca mais pôde chegar em casa. Uma vida interrompida, sonhos interrompidos, uma família enlutada pelo crime, que ocorreu em 1973, na cidade Vitória/ES.
São muitas Aracelis espalhadas pelo território brasileiro, vivendo diariamente a dor de não serem “gente grande” suficiente para protegerem seus próprios corpos, sentindo a impotência daquele que é mais frágil sofrer a violência exercida pelo mais forte. O grito que não consegue sair e, quando sai, não consegue se ouvir.
São diversas perguntas: de quem é a responsabilidade? Como ouvir? Como proteger? Como fazer com que a infância brasileira seja respeitada, cuidada e tenha sua inocência preservada, em que as brincadeiras sejam efetivamente brincadeiras; em que a leveza e o aprendizado sejam a base para sua formação adulta?
É responsabilidade de toda a sociedade se apropriar da proteção das crianças e adolescentes. Saber da violência e não denunciar faz-nos corresponsáveis pela construção de uma sociedade marcada por medo, opressão e pela omissão. Crianças e adolescentes protegidos, apresentam menores chances de tornarem-se adultos agressores. Infância devidamente cuidada propõe dias futuros melhores.
As denúncias para violências contra crianças e adolescentes podem ser realizadas pelo Disque 100 ou pelo telefone 3945-2711 (Conselho Tutelar); elas não necessitam de identificação.
Os casos encaminhados serão cuidadosamente acompanhados por uma equipe multidisciplinar, preservando o devido sigilo, no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), localizado no município de Sertãozinho, na avenida José Antônio Angelotti, 159, no bairro 1º de Maio. Os telefones para contato são: 3945-6493 e 3491-3740.
O CREAS é um equipamento de Proteção Social Especial, que atende situações de violência contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos, ofertando atendimento especializado. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30.